Estraguei tudo. Derrubei ácido sobre a seda e vi as fibras sumirem no balé do atropelo, sem chances de voltar atrás. Não dava pra reverter o processo. Por mais de uma vez pensei em não fazer, em não jogar, em recuperar a tampa, esquecer que eu sabia abri-la. Não pude. O instinto humano é cruel, e muitas vezes não deixa espaço para a razão.
Eu tive todo o tempo do mundo até ontem, até aquele exato instante, para fazer o que eu não queria. Tinha a hora certa pra quebrar os pratos, os dias certos pra cuspir no tapete, pra rasgar os papéis. E nem dei a menor importância pra eles.
(Sem a terceira perna ficou praticamente impossível não invadir os terrenos não-mapeados. As duas andam sozinhas. Zombo das minas, eu não me importo com o chão encharcado, eu não ligo a mínima para as pedras. Ando sem parar, e cada vez que vejo o céu laranja tenho menos vontade de olhar pra trás).
Ontem eu perdi as estruturas do meu discurso de boa moça. Ignorei a ética que eu me orgulhava de espalhar. "Não julgue, não atormente, não sufoque, não procure, não faça nada daquilo que odiaria se fizessem com você”. Um dia tudo isso aí desmorona. É, desaba como madeira podre no chão.
Consegui e, quando percebi o meu sucesso, fiquei parada, ali olhando, sentindo veneno nas veias, devagar, enrijecendo os músculos. o sentido do que é o sangue-frio estalando no cérebro, achei que iria congelar e virar aquilo que um dia alguém disse que eu era “ escultura transparente, talhada em sólido diamante”.
Foi pura estupidez. Só para saber até onde ia a minha memória. E ela me provou, mais uma vez, ser indiscutivelmente afiada. Eu não queria lembrar, mas eu simplesmente não esqueci. E isso é f*da, podia fazer maldades, podia chutar o pau da barraca. E, não, mais ninguém ia saber. Muito menos o mais prejudicado. Mas, não dá. É a tal história do "não tá certo", é uma invasão desmedida. Ia virar algo muito parecido com o mau-caratismo e, se eu chegar a esse ponto, não vai dá mais pé pra mim.
terça-feira, setembro 21, 2004
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