paraitinga do tudo-novo

Ele era o oficial de justiça mais temido da cidade. Linha dura, fama de ruim. Um popular por sua chatice, e parecia mesmo irredutível ao manter a pose de durão. Parecia. Chegava o carnaval, o respeitadíssimo enchia a cara da marvada, branquinha, água-que-o-passarinho-não-bebe, caninha, cachaça, pinga!
De tão bêbado, saía pela cidade fazendo arruaça e o povo, no deleite de ver o exemplo da ordem perdendo a linha - e pra descontar a raiva que passava ao ter que agüentar aquele senhor, sóbrio, durante o resto do ano -, jogava baldes d'água fria pela janela. Lógico, só quando ele passava bem embaixo.

Foi essa a história que a moça da mais simpática loja de artesanato da cidade, me contou. Ah! O nome do oficial bebum era Juca Teles, e hoje ele é tema do mais famoso bloco do carnaval de marchinhas de São Luiz do Paraitinga. E as pessoas continuam jogando água, agora nas cabeças dos turistas, mas, calma, é só durante o bloco.

É, como eu já havia sugerido no post anterior, eu estava lá sim. E, embora fosse o mesmo destino do carnaval de 2005, neste final de mês de fevereiro era tudo diferente demais. Ok, as tradicionais marchinhas, como a do Juca Teles, estavam lá firmes e fortes, mas EU estava diferente e, por conta disso, tudo ao redor mudou nessa versão carnavalesca.
Não vou ficar contando detalhes minúsculos, mas digo que, por estar mais sossegada, eu descobri coisas novas e, tão simples, que fizeram toda a diferente. A lojinha de artesanato, as ladeirinhas coloridas, a névoa que chega pontualmente às 03h e vai deixando as luzes mais fraquinhas e a cidade mais branca, subir no morro mais alto e ver que, de cima, a parte urbana lembra muito a forma de um peixe, ter conversas ótimas, comer crepe de prestígio, experimentar o pão com requeijão - que na verdade é um queijo mais duro que o catupiry e que, no fogo.. hum... - e ter enxergado as pessoas ao meu redor.

Pra deixar tudo mais pontual, seguem três situações, que talvez façam mais sentido do que longas explicações:

1. - Ai! Quem foi que inventou a CABEÇA?
- CABEÇA? Quem foi que inventou a PINGA, né Clarinha!

(diálogo entre duas das minhas companheiras de quarto, depois de um looongo dia)


2. - Muito obrigada, minha filha! Vá com Deus!

(de uma senhora de quase 60 anos que, junto com crianças, velhos, homens e mulheres mal-trapilhas, andava carregando um saco enorme, e se enfiando no meio da multidão para procurar latinhas. eu dei uma latinha na mão dela, e a frase acima veio com um olhar de agradecimento que me fez sentir ridícula, aproveitando a felicidade fabricada enquanto eles todos eram quase invisíveis no meio dos foliões. tive MUITA vontade de chorar)


3. - Oiiiiii! Tudo bom por aí? Como tá o carnaval?
- Oi tranqueira!!! Tá tudo ótimo, Tutu!!! E você aí, como tá? To sentindo sua falta.
- Tô bem, tá indo bem aqui, mas podia ser melhor. Eu te entendo, sinto o mesmo. Na verdade ter vindo pra cá serviu pra eu ter certeza de que eu já tenho o que eu quero na vida.

(meu namorado, me fazendo suspirar derretida por ter certeza de que as coisas são mesmo reais, e o querer bem é mútuo).