as amarras

minhas angústias permanentes não me parecem mais tããããão abstratas. tenho atribuído formas reais a cada uma das coisas que eu sei que não vão bem.

e eu deveria comemorar esse avanço, essa conclusão bem-resolvida mas, ao contrário da sensação boa de me ver livre de algo incômodo, virei refém das amarras que eu mesma invento.

agora que enxergo o que me sufoca, não consigo me mover. fico enfiada na correria, escondida nos compromissos sociais e encho a boca pra dizer que não me sobra tempo pra pensar no que fazer.
no fundo, bem lá nos cafundós da consciência, isso são só desculpas. é medo, é pavor de ter que tomar um monte de atitudes. ando sem coragem. e sem planos, o que me parece ainda pior.

aí, fico alternando as vontades. às vezes, como hoje, acordo vazia, simplesmente. trocentas coisas despencando e não tem concentração nem ânimo pra nenhuma delas. nem preocupação, o que é grave.

em outros, fico querendo acordar e ser qualquer outra pessoa, menos eu. de preferência já velhinha, com todas as memórias de uma vida vivida em boa parte, pra carregar comigo só sabedoria, sem mais aflições (tinha escrito um parágrafo imenso, com detalhes da minha velhice, mas não dá, é demais até pra mim).

da onde eu tiro essas coisas? de uma canseira mental que não passa... de saber que ainda falta tanto, de tanto, de tudo.... e meu saco anda cheio pra essas provações diárias, que começam dentro de mim e depois se espalham pra todo o resto, pra tudo em volta, quase sempre.

cadê a leveza, que era parte da menina dos cabelos amarelos?

...

e chega por hoje.