terça-feira, outubro 16, 2007

no mesmo lugar

fase de sensibilidade transbordando pelos poros. e, exatamente por me saber mais sensível nos últimos tempos, tenho sentido que o olhar é atraído sempre para aquilo que dá uma pontadinha no peito e desconstrói os pensamentos.

é muita gente sofrida, é muita miséria, é muita falta de tudo e de mais um pouco. as crianças que não são crianças, aquele velho que coçava a cabeça com a testa mirando o chão, aquele outro que parecia um avô nosso, um avô comum a todos nós, perdido. é a mulher que não vende as balas, a outra que sacode o potinho de moedas, o moço que se prepara para arrancar com a carroça nas costas e o cruzamento à frente. e são os barracos, os morros, as pontes, as fontes, as praças, os trapos, e... e o semáforo abriu, o ônibus chegou, o portão fechou, o jornal rasgou, a tv desligou e a gente se esquece de se lembrar do que a gente finge que não vê.


e eu, assim como aqueles todos que correm apressados sem saber direito nem pra onde nem pra quê, me refugio no meu mundinho mornamente confortável, em que os problemas despencam, mas até perdem o sentido. e escrevo posts-clichês, pra desabafar a minha postura indignada de menininha mimada de classe média, que sofre pelos pobres e mais miseráveis mas que não mexe a bunda pra mudar o que incomoda ou compadece.

tá tudo errado. e é foda, porque a culpa vem me cutucar as costas pra atormentar a consciência (acho que ela vem é cobrar a sua parte também) e, mesmo assim, fico empacada no mesmo lugar.

3 comentários:

Thá disse...

Tive sensações parecidas há poucos minutos, mas, para minha infelicidade, já me acostumei com elas.

Sinto-me frágil diante das injustiças do mundo, e culpada por estar aqui, na minha casa, com a geladeira cheia, e eles lá, contando o pouco dinheiro que entra para fazer com que pequenas coisas não faltem para o meu menininho.

Tenho as injustiças mais próximas do que eu realmente desejaria.

Anônimo disse...

Você escreve docemente, lindamente, como só você sabe fazer, até os textos mais duros.

Anônimo disse...

isso é foda, honey.

enquanto reclamamos das pequenas mazelas da vida, esquecemos que outras pessoas são molestadas por problemas BEM maiores que nossos. o que é um carro batido comparando-se com uma criança com fome e frio?

por isso que eu não consigo mais ficar choramingando por causa de bobeira. não dá pra ficar reclamando de ter problemas pessoais enquanto tem pessoas que não tem onde dormir mas enfrentam a vida com 10x mais coragem e resignação.

permanecer indiferente é um crime, eu tenho algumas idéias na cabeça, vou te escrever um email.

beijos