o casaco e o buraco

esqueci o casaco. ainda que eu estivesse assando no sacolejo-coletivo-do-todo-dia, pensava no casaco que tinha ficado pendurado. porque é assim, ainda tá escuro e faz um calor de meio-dia-e-meia-no-deserto, mas é só eu esquecer o casaco em casa que cai um dilúvio, que venta de descabelar coqueiro ou resolvem se esforçar pra tornar o escritório uma filial da Lapônia e ligam o ar-condicionado na menor temperatura possível.

pois bem, tinha esquecido o casaco e já mirabolava as conseqüências disso. na verdade, pensava que o casaco esquecido era resultado do sono, culpa dos resquícios da madrugada, que me fizeram fugir de aranhas gigantes , comer sushis e sashimis até pelo nariz e reencontrar uma pessoa muito especial (sonhos, essas coisas que ainda me surpreendem).

fiquei com vontade de descer do sacolejo-coletivo, de voltar pra casa. tinha que pegar o casaco. pronto, era isso! tinha encontrado um motivo convincente pra uma fuga: um casaco! então seria assim, eu voltaria pra buscar o casaco, me perderia, cairia numa boca-de-lobo e acordaria do outro lado do mundo. de preferência num lugar lindo e no qual eu não pudesse entender NADA do que dissessem, nem seriam capazes de decifrar um átomo do meu português-inglê-e-quase-italiano. aí eu não teria mais o tormento de querer resolver o que não posso nem sufocaria os outros com angústias que não se dissolvem. simples assim.

mas eu não desci. eu não voltei pra apanhar o casaco... e ligaram o ar, já ventou e tô quase buscando o meu parzinho pra ir pra arca (porque o dilúvio de hoje tá o Ó).

desisti do casaco. e do isolamento do lugar perfeito. eu não ia aguentar ficar sem falar mesmo... e no fundo foi porque eu decidi que vou buscar umas outras coisas, talvez um pouco mais urgentes, antes que eu vá de vez pro buraco (porque algo tá me avisando que, se eu cair, não será num lugar muito legal. é!).