sexta-feira, julho 18, 2008

desabafo pra compartilhar

passeava os meus dedos pelos ossinhos da coluna dele, em movimentos de vai-vém. alternava o afago por cafunés de desalinhar os cabelos e fazer os olhos ficarem mais pesados. era domingo, talvez já madrugada de segunda, mas a casa toda ainda estava acordada e a conversa fluia sem muita dificuldade. baixei os ombros, me deitei na cama, de frente para as costas dele, a pele ainda cheirando a sabonete. falávamos da vida, de nós, de ciclos, das coisas como são, como deveriam ser. nos lembramos que, no próximo mês, completamos nossos três anos de namoro. e então, em uma análise realista (e talvez até um tanto quanto cruel), concluimos que, por muito pouco, não chegaríamos a isso.

tivemos inúmeras chances de ver e de fazer tudo desmoronar. não fizemos. ainda bem. talvez se a nós tivesse sobrado orgulho e até mesmo coragem, teríamos apostado em outros caminhos. não apostamos. optamos por acreditar que as fases difíceis eram apenas dias ruins, que os atropelos eram normais, que os erros não eram senão por conta da intenção de acertar. entendemos que os silêncios eram pelo desejo de não machucar, que a falta das certezas era muito mais pelas angústias de cada um do que pelo que tínhamos em cumplicidade.

as escolhas, porém, não foram feitas em meio a toda essa clareza. pelo contrário. éramos movidos por uma intuição mais forte que nossas convicções - e por uma espécie de medo do que poderia ser se não estivéssemos juntos. só agora, incontáveis aflições depois, tudo ficou muito mais fácil e mais tranqüilo pra nós.

nossa história não é perfeita. não somos melhores do que ninguém. não sabemos a receita mágica de dias sem dor. e não queremos aprender.

mas, as notícias que chegaram nessa última semana me fizeram permanecer com as sensações da conversa do domingo que passou. ao ouvir os relatos compartilhados por pessoas que eu quero um imenso bem, repensei infinitas coisas e acabei por sentir uma alegria aliviada pelas escolhas que eu fiz nos últimos três anos. que nós fizemos. por, de uma forma ou de outra, termos acreditado mais no que gostaríamos que fosse pra nós dois do que naquilo que cada um queria pra si.

andei pensando nas relações humanas. nas construções e crenças que sustentam relacionamentos como os dos meus avós, dos meus pais. talvez a mesma espécie de força que nos impulsionou até agora (e que eu torço imensamente pra que continue por aqui). andei pensando nas urgências, nas necessidades, no vício cego da busca constante pela satisfação pessoal (e só por ela). no egoísmo, característia tão nossa, de querer ser feliz a qualquer custo e de não estar disposto a superar limites pra fazer acontecer por dois.

não questiono os finais. não discuto os motivos, as razões. não poderia, mesmo dotada de uma perversa arrogância que me escapa às forças. não poderia simplesmente porque acredito que entre o reflexo de quatro olhos que se encaram, sempre cabem razões que ali se encerram - e que não dizem respeito e não são compreensíveis a mais ninguém.

eu questiono os meios. o que me assusta, o que me decepciona, o que me desbota ainda que eu não queira, são as ações. são as decisões tomadas e a maneira como elas foram postas em prática. essas que não se sustentam, que não fazem sentido, que parecem não corresponder à essência dos que as tornaram reais.


as múltiplas histórias compartilhadas nos últimos sete dias se igualam pelas atitudes que eu não consigo compreender (mas que eu prefiro tentar acreditar que tiveram algum sentido em existir).

este post não é um julgamento. e não é também uma lição de coisa alguma. ele é só um desabafo. é uma reflexão compartilhada de quem se sente coadjuvante, ainda que minimamente, das histórias alheias - e que se pergunta o que é que andamos todos fazendo com essa coisa delicada que é a escolha de dividir a vida com alguém.

5 comentários:

Rachel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pammy Motta disse...

Eu me pergunto isso todos os dias.....
E pergunto mais.... o que fizemos das nossas vidas?

Bia disse...

vc falou tudo,e,na cara dura,vou copiar,orrai??


"... nas urgências, nas necessidades, no vício cego da busca constante pela satisfação pessoal (e só por ela). no egoísmo, característia tão nossa, de querer ser feliz a qualquer custo e de não estar disposto a superar limites pra fazer acontecer por dois"


Esse é o trecho que eu queria botar pra fora e num saía.
Lôra,vc sempre arrasa...

Cara,que vcs continuem assim,sempre.

thais disse...

é, eu acho, a coisa mais difícil: vida a dois.

ah, mas eu acho vcs um casal tão lindo, tão carinhoso, tao loiro.. hahahahha

adoro vcs 2.
e que venham mais vários, né?

beijo

Larissa Saram disse...

Florzinha, vocês são dois fofos!!!
Tenho certeza que terão um felizes para sempre!
beijoquinhas