Pronto, aqui estou, de volta a terra de concreto e asfalto, já que quero ser exata. Final da viagem, recomeço da vida real, mais real.
É clássica e previsível a angústia ao final de toda andança que eu faço. Volto pra casa, hora de desarrumar minha Mont Blanc vermelha, entupida de roupas sujas e, ao tirar as peças da mala, tiro também da mente as novas lembranças.
Dessa vez lembranças com gosto de vinho, Gudan e alívio. Ah, lado verde da força também me vem como recordação agora.
Só que não tem angústia. E eu não tenho a menor idéia de onde ela foi parar! Só sei que não voltou comigo no Clio.
Eu nunca fui muito amiga do mar. Embora tenha passado a infância engolindo água salgada e me ralando na areia, quando tive idade suficiente pra fugir com minhas pernas descobri que sentia muito mais paz debaixo de uma cachoeira.
Só que, como muitas outras das minhas verdades, essa foi uma das que dessa vez ficou lá na antiga vila de pescadores.
Sentada na pedra mais alta da praia, tendo debaixo dos meus pés aquela coisa imensa que quase se fundia com o céu, de repente senti uma paz muito maior do que eu.
E senti tanta felicidade ao ver que ela ainda estava ali, meio nocauteada por tanta porcaria que eu tinha feito e me obrigado a sentir, mas que ela não tinha ido embora. Estava só esperando a mente desligar uns segundos pra me mostrar que eu ainda sou um grãozinho de areia..... o mais branquelinho de todos..... e, pra me fazer entender outra vez que não há mal nenhum nisso. No final das contas todas, somos todos grãos de areia! Para quê, então, tantos pesadelos com os olhos abertos??? Pra quê então o desespero de encontrar uma bússola cravada em algum lugar ao alcance das minhas mãos???Não sei porque tamanha pressa de chegar ao que tem o seu tempo de ser encontrado..... não vou conseguir fugir!!! Como não consigo agora entender bem porque meu sexto sentido fica latejando, e me dizendo baixinho como verdade, algo que eu não canso de ouvir dos outros que é mentira.
O mar me ganhou pra sempre. Quando o vi na pedra e quando já no escuro deixei que ele viesse me lamber num aconchego.
Essa foi uma viagem em que sai convencida de que tinha que estar naquele lugar, com aquelas pessoas, pra passar por aquelas situações, pra gargalhar daquele jeito e de repente descobrir que não consigo mais chorar ouvindo aquela música. E teve a medida exata. Não pesou no coração colocar o pé na estrada pra fazer o caminho de volta.
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Um comentário:
A volta só é triste se deixarmos as alegrias da viagem se apagarem com as incertezas do cotidiano. Foram 2 anos sem te ver, plenamente compensados pela alegria de termos vivido esta viagem inesquecível! Um beijo!
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