.... mágica

ele chega em casa, eu olho pra nós dois e a gente ri. com a mesma risada de crianças, porque não vamos crescer nunca.

as camisetas da mesma cor, as calças jeans, os tênis da mesma marca. e os olhos são claros, os cabelos são claros, a pele é clara. é tudo muito parecido. demais, demais.

e a gente corre devagar dentro do carro, ouvindo música boa, pra encontrar pessoas melhores que a música. e nós chegamos, encontramos ela sentadinha, com a saia linda e os olhos e o cabelo mais bonitos que a saia. e ela pega o livreco nas mãos, abre, e o mesmo sorriso que era meu quando vi o filhote pronto, depois de tantas madrugadas. alívio.
ele chega, e a mesa está completa.

e pizza, sim, brasileira e margueritta, e refrigerantes nos copos de vidro. e brinde, brinde porque, afinal, é o tcc que acabou.
e comemos, comemos, e rimos e comemos. e lembramos de histórias. e discutimos opiniões. e tudo fica leve, é leve, está bem. assim, simples.

cartões de plástico vermelho, dois iguais, como quase tudo ali é igual. diferentes, eles todos, mas são iguais sim. e despedidas rápidas, pra pessoas que vão voltar a se despedir muitas vezes mais.

e volta pra casa, e tênis jogados, almofadas na cama. e os olhos na mesma direção. e risadas e mais risadas, e medo, muito muito. em doses pequenas, porque tem cafuné e aí o medo vai ficando menor.

e a casa começa a dormir devagar, mas não temos sono. e a gente pensa em tanta coisa, e deixa de pensar em tantas outras pra que elas não percam a graça. e, sem ter que dizer, a gente sabe que o quarto pequeno é o suficiente pro que se sente. é quase como algodão-doce, preenchendo os espaços. é calmo, é tranquilo. flui.

e os olhos se enchem de lágriminhas..... porque é assim, no final de uma segunda-feira comum, que a gente percebe como a felicidade é essa coisa simples, delicada.... que nos faz querer pedir pro tempo parar um pouco, só pra poder sentir bem devagar que ela fica ali, quietinha, sorrindo enquanto a gente se despede, sem duvidar de que no fundo, é mágica.