quarta-feira, março 26, 2008

a gérbera e o jantar

uma gérbera enfeitava a única mesa ocupada no restaurante do hotel. adoro as gérberas, são minhas flores favoritas (e outro dia ouvi alguém dizer que são hoje as “flores da moda”. fazer o que, né?). involuntariamente desviei o olhar pro ruído dos talheres batendo na louça e encontrei o rosto nipônico recém-conhecido. fui cumprimentá-lo e, ao perceber a sobremesa, decidi deixá-lo finalizar o jantar sozinho. com a insistência pra que eu ficasse, me acomodei na cadeira ao lado e escolhi o frango com legumes na manteiga e o arroz com damasco. fome, muita, aos montes.

engatamos uma conversinha superficial, um tanto burocrática até. assuntos profissionais, resultados do trabalho daquele dia. muito blábláblá e pouca intimidade, afinal havíamos nos conhecido pouco mais de 24 horas antes.

com o avançado dos minutos e uma certa empatia gradativa, a conversa foi tornando-se menos maquinal. quando me dei conta, ele remontava experiências vividas e o papo por conveniência havia se tornado uma espécie de desabafo. ele contava com detalhes toda a trajetória profissional que o havia levado àquela mesa com a gérbera vermelhinha.

enquanto ele me explicava o motivo das decisões, percebi que aquele homem havia trocado o status e os altos salários do mundo da engenharia por um ideal. trabalhar com a área da saúde havia sido uma escolha movida pelo intuito de fazer melhor, de contribuir com algo. ele era um exemplo do que eu mesma queria pra mim, da coragem para romper com o comodismo em busca de algo que fizesse sentido na vidinha.

de repente, a lembrança da história triste de uma criança doente fez a voz dele ficar desafinada e os olhos vacilarem. vi as lágrimas se equilibrarem nas pálpebras pequenininhas e engoli a limonada sentindo a garganta doer e os meus olhos molharem também. muita coisa pra um dia só.

(sem grandes motivos, naquela noite ele deixou de lado o posto cliente e, com tantos relatos compartilhados, me deu de presente uma das coisas que mais me fascina: a chance de conhecer histórias de vida, esse emaranhado de experiências, frustrações e conquistas responsáveis pela construção de quem fomos, quem somos e quem nos tornaremos.)

nos despedimos, apertei o botão número 14. entrei no quarto, rádio-relógio gritava: 22h54. o melhor banho do ano, pijama e três travesseiros depois, encerrava a quinta-feira com as malas arrumadas. as despedidas, a surpresa e a promessa cumprida ficariam mesmo pra sexta.

8 comentários:

Rachel disse...

ahhh então foi ele que te deixou assim e contou essas histórias todas? não tinha entendido que era ele ... gente boa o cara. Inteligente, foda e sobretudo, humano - falta gente assim no mundo. Mas é sempre bom toparmos com uma delas ! Bjao querida !

Pammy Motta disse...

È pessoas boas e lutadoras ainda existem né?
bjs

thais disse...

hum, eu vou te bater, viu? conta logoooooooooooooo! tá pior que lost. hihihihihihi

Anônimo disse...

Ju, posso confessar uma coisa? Adoro esses capítulos apetitosos do seu dia-a-dia, viu?

Ei, vamos ver o jogo do Juventus na Rua Javari neste domingo? Já deixei um convite também no blog da Amanda, hehehe...

Thá disse...

vamos! vamos! vamos! vamos!

(fazendo coro para o pedido do Fábio)

=)

Thá disse...

Ju, uma correção: o jogo do Juventus é no sábado, tá?

Não sei porquê, mas o Fábio colocou na cabeça que é domingo... hehehe

Acho que ele está trabalhando demais! =)

Anônimo disse...

1) É verdade, o jogo é sábado.
2) É verdade, estou trabalhando demais.

luamorzinha disse...

ai, tive que googlear imagens pra ver o que era essa tal da flor gérbera. hahahahhahahahahaha, totalmente sem cultura...