segunda-feira, março 24, 2008

maratona na capital federal

ainda era madrugada quando Brasília amanhaceu pra mim. às 04h50 liguei o chuveiro sabendo que o dia seria longo. enquanto repassava mentalmente as obrigações previstas para aquela quinta-feira, lembrei do jantar da noite anterior. rodeada por nefrologistas - os melhores do país - ouvia relatos médicos, comentários familiares e ganhava uma promessa que iria se cumprir pouco depois.

já no saguão do hotel, respirava devagar pra poder ouvir o silêncio do dia nascendo. às 05h50, puxava papo com a autoridade máxima daquela associação de médicos; estávamos a caminho da cidade satélite para as primeiras gravações de tv. números, letras, endereços que não faziam sentido pra mim e uma cidade que insistia em não acordar (Brasília desperta tarde, como me disseram os que adivinharam o meu estranhamento). o pequeno trajeto, a garrafa de água e as palavras ditas pelos olhos me fizeram entender que o homem que eu acompanhava me traria mais ensinamentos do que eu suspeitava.

passava das 07h quando fiquei sozinha naquele chão de poeira batida e chinelos arrastados. o posto de saúde já amontoava filas grandes quando um senhor de boné e cansaço veio me perguntar se ali seriam distribuídos também sanduíches. senti uma pontada no estômago (nessas horas de realidade, vem uma vergonha pelo universo de coisas que parecem tão importantes e que se descobre, olhando pra quem tem muito menos, que na verdade são fruto do egoísmo e da imaturidade). quando a fila já avançada pela calçada e o sol dizia que eu estava mesmo no planalto central, vi a cunhada-amiga-assessora-parceira chegar sorridente, pra me salvar a manhã.

deixei a minha meninoca do coração cuidar de tudo, enquanto a equipe do plim-plim terminava de colher as imagens e as entrevistas, e corri pra encontrar o que me esperava. ao entrar no prédio do congresso, qual não foi a minha surpresa ao dar de cara com o digníssimo senhor deputado que trajava um conjunto cor-de-rosa-bebê, meio cintilante, com ares de quem pisa em algodão-doce. adivinhem quem era o cidadão (resposta ao final do post*)?

às 12h35 apertava o passo debaixo do calor escaldante. eu contabilizava dois links e cinco entrevistas. tagarelava com a médica que participaria, ao vivo, de um programa para a mulherada. eram 14h47 quando me dei conta de que Giselda ainda estava a base de água. meio sanduíche e um chocolate depois, corria para o hospital universitário. às 17h50, entrava no taxi, exausta.

pausa para largar a pasta no quarto, um xixi, elevador e às 18h05 lá estava ele outro vez no saguão do hotel, impecavelmente gentil, assim como no encontro de quase doze horas antes. no taxi e na emissora, conversávamos sobre amenidades enquanto esperávamos o telejornal regional começar. ele me contava sobre o estalo que tivera ainda adolescente, a nova percepção de mundo fruto do interesse pela física. de repente, discutíamos como a vaidade (que evidencia a mesquinhez das pessoas) pode originar atos simplesmente incompreensíveis - e eu me surpreendia com comentários pertinentes. ao final de pouco mais de 3 minutos de bate-papo ao vivo com o âncora, saíamos sorridentes do estúdio de TV. era o fim da maratona daquele dia 13.

abri a porta do quarto de hotel e olhei pro rádio-relógio: 20:02. arranquei os sapatos e, antes de me largar na cama imeeeensa, empurrei as cortinas. Brasília cintilava da vista do 14º andar e, ali bem perto, vi a catedral retribuir meu cumprimento. não consegui descansar. invadi descalça a varanda pra tomar o vento fresco da noite de euforia. tinha dado tudo mais que certo e, mesmo moída e faminta, estava insuportavelmente leve e realizada. contabilizei os resultados outra vez: 12 entrevistas.

liguei para a cunhada-assessora-meninoca-do-coração que, também exausta, me aconselhou a ficar por ali mesmo. banho, comidinha e cama. resolvi ouvir a voz da sabedoria e, antes da ducha necessária, calcei o salto em direção ao restaurante do hotel, sem saber que a noite ainda guardava um pouco mais pra mim.

(continua quando eu tiver tempo e vocês tiverem paciência.)

* resposta: acertou quem palpitou que só podia mesmo ser o Clô! =)

10 comentários:

Thá disse...

que saudade que me deu da cama imeeeeeeensaaaaa do hotel de Brasília! ai, ai...

Por falar em hotel, o seu era no setor hoteleiro sul?

beijocas
ps: conta logo os próximos capítulos, viu?

Thá disse...

ah, por mais exôticas que sejam as figuras que circulam pelo Congresso, o "digníssimo senhor deputado que trajava um conjunto cor-de-rosa-bebê, meio cintilante, com ares de quem pisa em algodão-doce" é inconfundível. Acertei o palpite!

;)

Anônimo disse...

Hahahaha, que sensacional! Também estou curioso para ler os próximos capítulos de sua aventura pelo Planalto Central.

Saudade da capital federal!
:)

PS: Nossa, rimou tudo! Uau!

Larissa Saram disse...

Post longo...e lindo!!!!!!!!
Quero mais, quero mais, quero mais!
Posta logo!
bjs

Pammy Motta disse...

Sò vc mesmo para conseguir deixar todos assim ... babando de vontade de ler mais ...
conta vai.
bjks

Anônimo disse...

Ah, quero ir pra Brasília também!

Rachel disse...

ahhh eu ainda não consegui expressar o que foi para mim ver aquela fila enorme e pessoas no sol .. vai ver porque a emoção foi tanta que guardei aqui dentro .. meu jeito de ser ... tem coisas que não dá pra soltar nas letrinhas ... mas de qq forma, adorei o cunhada-assessora-meninoca do coração. Hehehe, vou te tratar assim tb! vc deu um show. foi bom mesmo. Bjo!

3rd World Dude disse...

Os 'Mortos?' também ficaram curiosos.

Pammy Motta disse...

me manda a linha
eu faço claro
bjks

thais disse...

ah, sacanagem!
continua aí, pô.