(ou "o fim da série dos dias em Brasília")
malas prontas, presentes guardados na memória e nos sentidos, terminei o almoço com despedidas a todas as companhias impagáveis da minha passagem-relâmpago por Brasília. mesmo sabendo que o workshop ainda teria uma continuação no pós-feijoada, apelei para a carona do motorista do transfer e fui direto para o escritório da agência.
enquanto checava os e-mails, aproveitava também para conhecer a filial brasiliense da empresa. o espaço era lindo, novinho e moderno, mas eu queria mesmo era ganhar a rua pra, finalmente, visitar a tão famosa catedral (aquela mesma que havia retribuído meu aceno na noite anterior). tinha tudo planejado: enquanto a cunhada-assessora-parceira-do-coração parava no hotel pra arrumar as coisas e voltar pra casa eu tomaria um táxi e teria meus 20 minutos de turista.
no caminho para a igreja, o taxista, que era policial federal nas horas cheias, (é, eu sei, eu sei...) definhava os palcos mambembes de Brasília. contava que detesta a cidade, que é obrigado a praticar injustiças diárias e que aquilo não é vida pra ninguém. fiquei calada, ouvindo mais aquela confissão na capital federal e pensando em como aquela amplitude toda camufla uma opressão não tão velada assim.
motor do carro desligado, taxímetro rodando, apontei o celular para a fachada da igreja. três cliques depois, estava parada no interior da catedral, cabeça erguida para o alto e estado de choque. eram pouco antes das 17h, a luz da tarde baixa atravessava os vitrais verdes e azuis e fazia com que os anjos suspensos flutuassem no vazio de um tempo sem pressa nem cobranças. andei devagar em direção a um dos bancos de madeira, com medo de que a visão daquele silêncio fugisse dos meus olhos. sentei meio esparramada, nuca apoiada na madeira, tendo um dos anjos cinzas-pedra em cima da minha cabeça e lágrimas nos olhos. sem saber ao certo a quem, agradeci por tudo. agradeci por ter a sorte que tenho, pelas pessoas que tenho, pelas tristezas, pelos pequenos milagres diários que eu ganho sem notar. chorei baixinho por sentir que a vida é muito maior do que os dedos alcançam e por acreditar que a mágica é exatamente essa. foram os melhores minutos da minha viagem.
voltei para o hotel bem a tempo de encontrar a meninoca-do-coração pronta, comentários soltos e bom-humor. como o trânsito não era palavra conhecida naquela cidade, logo estávamos na lojinha de souvenirs do aeroporto, tentando escolher o melhor ímã pra geladeira da minha casa (é tradição pra qualquer lugar visitado. um dia explico o porquê) enquanto a minha cabeça ensaiava uma explosão atômica. quando perdi a capacidade de falar, decidi parar na farmácia e apelar pra um comprimidinho que acabasse com a tortura.
pois bem, qual não foi a minha surpresa ao saber que o único remédio de que eu precisava NÃO estava a venda. quase chorando, vi o ser iluminado ao meu lado estender a mão aberta, com o santo comprimido e um sorrisão no rosto. "toma, moça, fica com esse. se a dor estiver muito grande, tenho um outro mais forte, tá?". quase beijei o homem, mas imediatamente após o impulso reprimido, fiquei me perguntando se engolir aquela cápsula era realmente seguro (e aí tive plena convicção de que estou ficando paranóica, já que até a bondade alheia me deixa desconfiada).
mais de duas horas de atraso, dois pães de queijo e um suco de laranja depois, finalmente eu e cunhada-assessora-parceira-do-coração voávamos de volta pra terra da garoa. momento de respiração tensa ao sentir o avião tocar o solo do pior aeroporto do país e pronto. estávamos em casa.
(a viagem pra Brasília ainda me rendeu um tremendo reconhecimento profissional, que extrapolou todas as minhas expectativas. mas, a maior satisfação veio mesmo do imensurável, das histórias de vida, das surpresas e das experiências compartilhadas. daquilo que o dinheiro não compra, mas que a alma aceita, agradecida).
quarta-feira, abril 23, 2008
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5 comentários:
A Catedral da capital federal (nossa, quanto "al"!) é mesmo fascinante. Encantadora, né?
Nossa passagem pela Catedral também foi para lá de emocionante... Com os seus relatos, revivi os meus dias em Brasília, sabia?
ahhh mto bom lindona !! e sei que ainda vc tem vários relatos para comentar entre fatos e acontecimentos daquele dia de Brasilia até agora né? ai ai ai como adooooro entrar aqui e ler esses relatos ! parece um livro ! a saga de brasilia parecia mesmo um livro querida .. e o mais legal é ser uma das personagens ! hahaha
bjao !
sabe, eu tb ficaria com receio de tomar um remédio dado por um estranho. he he he he.
eu e o bhuda tínhamos mania de porta retrato. cada lugar visitado, a gente comprava um porta retrato, mandava ampliar a melhor foto da viagem e botava lá, na estante. paramos quando não tínhamos mais estante. he eh ehe he ehe
beijoooo
ps: vamos pizzar esse fds?
Oi dá para nunca mais parar de postar??????
Grata
Larissa S.
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