quarta-feira, abril 23, 2008

na catedral

(ou "o fim da série dos dias em Brasília")

malas prontas, presentes guardados na memória e nos sentidos, terminei o almoço com despedidas a todas as companhias impagáveis da minha passagem-relâmpago por Brasília. mesmo sabendo que o workshop ainda teria uma continuação no pós-feijoada, apelei para a carona do motorista do transfer e fui direto para o escritório da agência.

enquanto checava os e-mails, aproveitava também para conhecer a filial brasiliense da empresa. o espaço era lindo, novinho e moderno, mas eu queria mesmo era ganhar a rua pra, finalmente, visitar a tão famosa catedral (aquela mesma que havia retribuído meu aceno na noite anterior). tinha tudo planejado: enquanto a cunhada-assessora-parceira-do-coração parava no hotel pra arrumar as coisas e voltar pra casa eu tomaria um táxi e teria meus 20 minutos de turista.

no caminho para a igreja, o taxista, que era policial federal nas horas cheias, (é, eu sei, eu sei...) definhava os palcos mambembes de Brasília. contava que detesta a cidade, que é obrigado a praticar injustiças diárias e que aquilo não é vida pra ninguém. fiquei calada, ouvindo mais aquela confissão na capital federal e pensando em como aquela amplitude toda camufla uma opressão não tão velada assim.

motor do carro desligado, taxímetro rodando, apontei o celular para a fachada da igreja. três cliques depois, estava parada no interior da catedral, cabeça erguida para o alto e estado de choque. eram pouco antes das 17h, a luz da tarde baixa atravessava os vitrais verdes e azuis e fazia com que os anjos suspensos flutuassem no vazio de um tempo sem pressa nem cobranças. andei devagar em direção a um dos bancos de madeira, com medo de que a visão daquele silêncio fugisse dos meus olhos. sentei meio esparramada, nuca apoiada na madeira, tendo um dos anjos cinzas-pedra em cima da minha cabeça e lágrimas nos olhos. sem saber ao certo a quem, agradeci por tudo. agradeci por ter a sorte que tenho, pelas pessoas que tenho, pelas tristezas, pelos pequenos milagres diários que eu ganho sem notar. chorei baixinho por sentir que a vida é muito maior do que os dedos alcançam e por acreditar que a mágica é exatamente essa. foram os melhores minutos da minha viagem.

voltei para o hotel bem a tempo de encontrar a meninoca-do-coração pronta, comentários soltos e bom-humor. como o trânsito não era palavra conhecida naquela cidade, logo estávamos na lojinha de souvenirs do aeroporto, tentando escolher o melhor ímã pra geladeira da minha casa (é tradição pra qualquer lugar visitado. um dia explico o porquê) enquanto a minha cabeça ensaiava uma explosão atômica. quando perdi a capacidade de falar, decidi parar na farmácia e apelar pra um comprimidinho que acabasse com a tortura.

pois bem, qual não foi a minha surpresa ao saber que o único remédio de que eu precisava NÃO estava a venda. quase chorando, vi o ser iluminado ao meu lado estender a mão aberta, com o santo comprimido e um sorrisão no rosto. "toma, moça, fica com esse. se a dor estiver muito grande, tenho um outro mais forte, tá?". quase beijei o homem, mas imediatamente após o impulso reprimido, fiquei me perguntando se engolir aquela cápsula era realmente seguro (e aí tive plena convicção de que estou ficando paranóica, já que até a bondade alheia me deixa desconfiada).

mais de duas horas de atraso, dois pães de queijo e um suco de laranja depois, finalmente eu e cunhada-assessora-parceira-do-coração voávamos de volta pra terra da garoa. momento de respiração tensa ao sentir o avião tocar o solo do pior aeroporto do país e pronto. estávamos em casa.

(a viagem pra Brasília ainda me rendeu um tremendo reconhecimento profissional, que extrapolou todas as minhas expectativas. mas, a maior satisfação veio mesmo do imensurável, das histórias de vida, das surpresas e das experiências compartilhadas. daquilo que o dinheiro não compra, mas que a alma aceita, agradecida).

5 comentários:

Anônimo disse...

A Catedral da capital federal (nossa, quanto "al"!) é mesmo fascinante. Encantadora, né?

Thá disse...

Nossa passagem pela Catedral também foi para lá de emocionante... Com os seus relatos, revivi os meus dias em Brasília, sabia?

Rachel disse...

ahhh mto bom lindona !! e sei que ainda vc tem vários relatos para comentar entre fatos e acontecimentos daquele dia de Brasilia até agora né? ai ai ai como adooooro entrar aqui e ler esses relatos ! parece um livro ! a saga de brasilia parecia mesmo um livro querida .. e o mais legal é ser uma das personagens ! hahaha

bjao !

thais disse...

sabe, eu tb ficaria com receio de tomar um remédio dado por um estranho. he he he he.
eu e o bhuda tínhamos mania de porta retrato. cada lugar visitado, a gente comprava um porta retrato, mandava ampliar a melhor foto da viagem e botava lá, na estante. paramos quando não tínhamos mais estante. he eh ehe he ehe

beijoooo

ps: vamos pizzar esse fds?

Larissa Saram disse...

Oi dá para nunca mais parar de postar??????
Grata
Larissa S.