domingo, abril 29, 2007

aprendizado


Aprendizado

Estou aprendendo a enterrar amigos,
Corpos conhecidos, e começo as lições
de enterrar alguns tipos de esperança

Ainda hoje
Sepultei um braço e um desejo de vingança
Ontem, fui mais fundo:
Sepultei a tíbia esquerda
E apaguei três nomes da lembrança.

Affonso Romano de Sant´Anna


ascendi o incenso de camomila e prendi a respiração no escuro. lembrei do poema acima, escrito pela professora numa carta tão linda quanto triste, em que ela me deixava os versos dizendo que, assim como eles a ensinavam a viver cada manhã, me ajudariam a olhar o mundo, as minhas atitudes e as atitudes dos outros ao meu redor.

demorei cinco anos para realmente entender o que ela queria dizer... é porque nunca tinha tido um ex-amigo. entre tantas pessoas que eu perdi e se perderem ao longo dos anos, nunca tinha experimentado o gosto de mal-entendidos em série, assim como ninguém nunca havia me dito (nem dito em nome de alguém) que não sentia a minha falta ou não fazia questão da minha presença entre outros amigos.

percebi que eu segurava o choro enquanto a fumaça do incenso deixava o quarto com cheiro de folha depois da chuva. então, sentei na cama sentindo a garganta doer e fiz um ritual que há tempos eu tinha deixado de lado: rezei (sim, eu tenho as minhas crenças e não me envergonho delas). e, no meio da oração, me deixei chorar. pedi que a eles não falte o dinheiro pra tanta coisa, que nunca saibam o que é passar fome ou não ter saúde. e, ao mesmo tempo, pedi serenidade suficiente pra mim, pra que eu pudesse entender que o desapego faz parte da vida (e que às vezes a gente se engana com as pessoas que recebem nossa melhor parte).

dormi depois nos soluços, pra acordar mais leve. o tempo é sempre o senhor das coisas. ele se encarrega de mostrar a cada um de nós as lições que nos cabem.

5 comentários:

Eis a questão disse...

Realmente e isso se assemelha muito à um adolescente na escola, por tempos ele está lá por estar, não dá a mínima ao que aconteçe, porém chega um tempo que ele começa a ficar pensativo, e inicia um processo de amadurecimento através de indagações. Ele percebe que a vida não é só fantasia, que as pessoas existem e que nem sempre elas são boas, percebe que para está ali algum dinheiro é gasto e que o mais importante, ele já foi desperdiçado, porém o mais entusiasmatico nesse processo é que ele percebe isso e em alguns começam a correr buscando o que foi perdido, eu já passei por essa fase e estou correndo.


Quando se fala em amizade e percas, associo à escola, pois é lá onde estão alguns amigos que perdi não pelo tempo,ou por eu ser hipocrita, ou mal e sim por eles não terem sido sinceros comigo, e esse texto possui um emotivo muito forte. Enquanto uns amigos se vão por causa da nossas atitudes outros se vão por suas próprias atitudes.



Começei hoje minha carreira de blogeiro. Boa tarde.

Anônimo disse...

Ju, adorei o trecho da reza, do "sim, eu tenho as minhas crenças e não me envergonho delas". Pois somos dois.

E não há nada mais redentor - e proveitoso - que o tempo mesmo.

Beijo!

thais disse...

ai, juuuu! que post tristinho...
querendo conversar, estou por aqui!

beijo

Thá disse...

temporada no Rio, dona Ju??? Conte-me tudo!

Anônimo disse...

Ai... mas tem gente que é muito babaca mesmo, né? Ju, não perde tempo com esse povo, não. Eles que se engulam.