quinta-feira, setembro 30, 2004

e direto da Terra do Nunca....

Há um mês eu tinha certeza absoluta de que a fada viria.
Há uma semana ela ficava andando dentro da minha carteira, em papel vegetal, enquanto eu ainda não tinha coragem.
Ontem ela chegou, vinda direto da Terra do Nunca, pousou rápido no meu pé, foi embora e deixou o contorno comigo.

Não sofri, não chorei, não vi uma gota de sangue. E pode achar loucura, não me arrependi e sei que não vou me arrepender.
Há dois dias encontrei o meu caderno de anotar a vida, e lá dentro o seguinte (escrito no que agora parece o distante começo de 2004) : três coisas até o fim da vida: falar italiano, fazer uma tatuagem, ter um filho”.

Uma delas eu já cumpri.


(obs- pena que ainda não consigo postar fotos...)



terça-feira, setembro 28, 2004

nha, eu contei.....

Ah, que coisa!!!!
eu toda decidida a ter um segredo só meu, por mais idiota que ele fosse e..... acabei de acabar com a brincadeira!!

Falando com a boca cheia de batata, fui contar o que eu prometi que ninguém no mundo ia saber. Oh well, deve ser uma sensação bem parecida com a que os pais têm quando descobrem que vão ter que aprender a dividir seus filhos com o mundo.
Era meu filhotinho, a little freak, fruto de quando eu mandei pra PQP meus princípios. e nem foi nada perverso (ah, essas mentes que fervilham mais que a minha, hehehehe!!) mas era meu.
Agora é nosso. E vai ter que ser pra sempre!

eu prometo: serei uma menina má!!!!

Ontem eu simplesmente fui mais do que eu esperava de mim. Sem perceber, sem fazer esforços, sem tentar enganar a mente com joguinhos de imagens e frases sem sentido. Nada de blábláblá.
Estava simplesmente bem. Mais que bem. Tinha ligado meu botão do “it’s the end of the world and I feel fine”. O mundo podia estourar que eu ia continuar na mesma.

Decidi que vou parar de treinar. A decisão já estava tomada, mas eu precisava avisar o moço libanês que joga muito. Deu uma tristezinha, mas acho que vai ser melhor assim.
Fiquei lá na quadra mais bizarra do universo, aquela no meio do 6º andar de um dos prédios mais tradicionais, de umas das avenidas mais movimentadas, de uma das maiores cidades do mundo, brincado com a bola..... descalça. Nada de uniforme apropriado. Com uma blusa que só tinha um lado do ombro e uma calça que agora cai da minha cintura e fica parecendo um saco de lixo amarrado a uma tábua de passar roupas (é, eu cheguei outra vez aos 47. Finíssimos).

Perdi a noção de muitas coisas enquanto ficava ali olhando a bola, ouvindo o barulho dos meus pés baterem no chão. Foi rapidinho até, mas de repente trocentas mil coisas passaram pela minha cabeça. E nenhuma delas trouxe nada pra eu falar “puxa vida, não é que era isso mesmo??”. Não, nada de novidades. Cansei de suspirar. Não sirvo pra isso, não tem vocação pra tanto, e minha cota de angústia já tá acabando.

Pra quem ou o quê queria me ensinar essa lição: agora chega de doer, ok? Já aprendi, vou ser uma menina má daqui pra frente. Eu prometo! =)



segunda-feira, setembro 27, 2004

agora

Cansei das bolinhas verdes. Das amarelas também. Das letrinhas apertadas. Dos posts introspectivos. De escrever coisas que um ou dois entendem. o resto deve pensar que eu to ficando louca (só um aviso: eu finalmente estou achando bom SER louca. tentar seguir os padrões faz mal, muito, muito mal para espíritos inquietos. e eu não consigo desligar).

Esqueci de dizer que acordei outra vez com as borboletas em ritmo acelerado, os pensamentos fervilhando e fazendo cócegas.
Acordei com as picadas dos pernilongos também. Mas essas passam logo. As resoluções não.
E sinto-me como numa montanha-russa. Sobe e desce desgraçado!!!! Mas, seria muito pior ficar na fila, só olhando, sem ter coragem de subir no carrinho.

Não quero ver a minha vida passar por mim sem provar o gosto que ela tem.
Já disse, meu mosaico tá ficando cada vez mais bonito!

Tudo ao mesmo tempo agora

É assim, quase sempre assim. A semana que passou foi digna de entrar no hall daquelas em que a vontade é a de gritar “pára tudo que eu quero descer!!!”.
Tive que fazer uma confissão pro espelho. Uma coisa péssima, que eu tava fazendo comigo mesma. Riscando sono e comida do meu dicionário, todas as outras coisas começaram a desandar. E fazer isso, mesmo que sem querer, foi pedir pra ficar na corda-bamba.


Um resumo do que rolou nesses últimos dias. De trás pra frente:


Domingo, 26/09

Despertador às 07h15 pra avisar que dormir era piada. Fui avisar o professor. Dona da casa irritada. Voltei pra cama.
Vamos pro jogo. HAND às 10h? Hum........... eu só queria mesmo ver o futsal!!!!
4 x1. dessa vez para as futuras médicas que não tinham técnico e conversavam sobre a balada.
Hospital-labirinto. Médico gracinha, mas insuportável. Que culpa “Chuchu” e eu tínhamos se ele era residente até ontem e agora trabalha no domingo?!?!?!? Enfim, nada quebrado.
Cama outra vez. Areia nos olhos, veneno no sangue. O céu azul pálido, do mesmo tom das pastilhas do lado de fora da janela. Não encontrava o que eu precisava, por mais que eu tentasse, e o cd roubado gritando uma música que parecia perfeita.
Resgate nipônico. Volta pra casa de verdade, pro calor e horas de conversa. Horas, de planos pro futuro que ta aí, pra eu pesar as coisas e, de repente levar um susto.
“Eu não sei se quero você, se quero que queiras que eu queira nós dois”. É do menino poeta mas, no meio dos meus planos e ajudando um querido a pensar nos dele, de repente me vi com as coisas na mão, com os desdobramentos e descobrindo que o mundo vai girar, girar, girar..... e voltar pro mesmo lugar. E não sei mais se é isso que eu quero.
Meu sexto sentido não falha.



Sábado, 25/09

Coisas demais pra se botar no lugar. Conselho de mãe é sempre conselho de mãe.
Pizza, meninas e jogo. Ou melhor, meninas, notícias sobre o tratamento (será que vou me render às agulhas?!?!), jogo, carona com os meus queridos e depois pizza.
Pizza no frio, na casa dele. Mas, não era como antes. Não somos mais crianças. Asfalto ao invés de mato. Não tinha o saco de suspiros, nem trancinhas, nem boné. . Nem beijo melado de melancia. Cerveja ao invés de guaraná. Olhos verdes teimando que os meus não são azuis. Fiquei pequena perto dele. Na verdade foi ele quem cresceu de mais. E roubei o cd. Acho que não vou devolver mais.... (espero que não sejam mais 12 meses!!!)


Sexta-feira, 24/09

Não consigo lembrar do que foi. Eu estava em outro lugar, longe do mundo palpável, mas ainda no mundo real.
Só queria que o avião chegasse logo. Saudades, saudades, flores pela casa. Precisava de um bom colo e um grande chacoalhão. Na verdade eu só queria os beijos e abraços que vieram.
F*da-se a Cásper e suas provas.



Quinta-feira, 23/09

Michal Moore na aula de Ciência Política. A cultura brasileira pra ser estudada no bar. Maldita hora, maldita Serra Malte, malditos sentimentos atropelados. Odeio despedidas, com todas as minhas forças. Principalmente depois de mais do mesmo, de outras vezes ter dito adeus. Ninguém merece a britadeira de volta no peito. Nem ter como novo pano de fundo lágrimas no silêncio, olhares que não se desviaram, certezas do que se foi. E nunca vai voltar.
Matar uma filha, enterrar os sonhos, vomitar sangue.
Pra quê? Eu realmente só ia aprender se fosse assim???? Cruel, hein!
Pra piorar, “porque está amanhecendo?? se eu não vou beijar seus lábios quando você se for?”.
Tem coisas das quais a gente realmente se arrepende.


Quarta-feira, 22/09

E-mails sem pé nem cabeça invadindo minha caixa postal. Adoção quase instantânea, lá vou eu "passabolar" também.
Sem escolhas, fui visitar a salinha do inferno. Ufa, deu certo, mas nem quero repetir a dose. De repente eu sabia tudo sobre legislação. Uma coisa realmente impressionante.
“Parabéns pra você” e dessa vez foi pra dona contadora de histórias. Bar, sempre bem-vindo. E cerveja, cerveja, cerveja. Pessoas animadas, e eu com sono. Uno vermelho, dirigido pela menina dos cabelos cereja. NA CONTRAMÃO! Ok, já tava tarde, tudo resolvido. Cochilo na casa das meninas, que Pirituba fica longe demais. E tava tarde.

terça-feira, setembro 21, 2004

momento eu quero

- Uma passagem só de ida pra Londres, AGORA (tudo culpa do Arthur)

- Jogar a caixinha com os remédios pela privada

- Parar de passar mal e de perder as estribeiras por culpa dos hormônios

- Ser capaz de não cometer a mesma burrada outra vez (e a tentação, hein? tão fácil..... mas o efeito dura MUITO mais do que eu pensava, e não é nada bom de sentir)

- Nunca mais chorar vendo aquele dvd

- Não mais acreditar em quem não diz a verdade


Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah!!!!!!!!!! humpft!! já chega!!!!

cuidado: memória afiada pode furar as entranhas

Estraguei tudo. Derrubei ácido sobre a seda e vi as fibras sumirem no balé do atropelo, sem chances de voltar atrás. Não dava pra reverter o processo. Por mais de uma vez pensei em não fazer, em não jogar, em recuperar a tampa, esquecer que eu sabia abri-la. Não pude. O instinto humano é cruel, e muitas vezes não deixa espaço para a razão.

Eu tive todo o tempo do mundo até ontem, até aquele exato instante, para fazer o que eu não queria. Tinha a hora certa pra quebrar os pratos, os dias certos pra cuspir no tapete, pra rasgar os papéis. E nem dei a menor importância pra eles.

(Sem a terceira perna ficou praticamente impossível não invadir os terrenos não-mapeados. As duas andam sozinhas. Zombo das minas, eu não me importo com o chão encharcado, eu não ligo a mínima para as pedras. Ando sem parar, e cada vez que vejo o céu laranja tenho menos vontade de olhar pra trás).

Ontem eu perdi as estruturas do meu discurso de boa moça. Ignorei a ética que eu me orgulhava de espalhar. "Não julgue, não atormente, não sufoque, não procure, não faça nada daquilo que odiaria se fizessem com você”. Um dia tudo isso aí desmorona. É, desaba como madeira podre no chão.

Consegui e, quando percebi o meu sucesso, fiquei parada, ali olhando, sentindo veneno nas veias, devagar, enrijecendo os músculos. o sentido do que é o sangue-frio estalando no cérebro, achei que iria congelar e virar aquilo que um dia alguém disse que eu era “ escultura transparente, talhada em sólido diamante”.

Foi pura estupidez. Só para saber até onde ia a minha memória. E ela me provou, mais uma vez, ser indiscutivelmente afiada. Eu não queria lembrar, mas eu simplesmente não esqueci. E isso é f*da, podia fazer maldades, podia chutar o pau da barraca. E, não, mais ninguém ia saber. Muito menos o mais prejudicado. Mas, não dá. É a tal história do "não tá certo", é uma invasão desmedida. Ia virar algo muito parecido com o mau-caratismo e, se eu chegar a esse ponto, não vai dá mais pé pra mim.



sexta-feira, setembro 17, 2004

“eu ando pelo mundo.....

prestando atenção em cores que eu não sei o nome......”

Podia agora sentar no escadão da Paulista, na pedra de Trindade, quem sabe esperar a noite no escuro da piscina de Extrema ou no meio da quadra do Senzala (e esses dois últimos entraram para a lista dos lugares que pertencem só às lembranças).
As sensações seriam basicamente as mesmas.
Tempo para ouvir Adriana, fechar os olhos e lembrar do que ainda não veio, com uma ansiedade controlada dentro do peito.

Um dia me disseram que o mundo não é suficiente...... ele não é mesmo!
Mas às vezes os instantes são tão carregados que eu fico imensa, ou ele se torna minúsculo e aí tudo se encaixa.
Em outros dias eu simplesmente tenho a certeza de que não sou daqui. Como um analfabeto numa biblioteca, que abre os livros procurando explicações em figuras, porque os sinais nada dizem. E as opções são tantas que não há nada a fazer, a não ser escolher uma prateleira e ver no que vai dar.

Nessas dias sinto a plena necessidade de gastar a visão e a sola do meu sapato. Sozinha, em caminhos por lugares que mais ninguém sabe chegar. Sem angústia, apenas com as idéias passeando, borboletas que fazem cócegas.

Hoje é dia de visitar o guichê que vende as passagens pra outras dimensões.

quarta-feira, setembro 15, 2004

agradecimento especial

Faz tempo, muito tempo. Era um dia frio, chuva, um monte de pré-adolescentes berrando, pulando de banco em banco e sacudindo o ônibus de viagem Nem pareciam se importar com a demora, pelo contrário, a diversão ali era garantida. Um deles, porém, alheio à algazarra. Quieto em seu banco com um walk-man.Do alto dos meus elétricos 13 anos, sento ao seu lado: “Olá”, disparo sem rodeios. Um olhar desconfiado me retribui o cumprimento, sem tirar os fones do ouvido. Ele ouvia Queen e parecia ter muito mais idade que todos nós juntos.

***
Começo de agosto, churrasco para se despedir do garoto que sempre vai embora. Chegou com o carro, maço de cigarros nas mãos, “quero uma cerveja também”. O quê?? ELE??? Bebendo e fumando?? Sim. E naquele dia esfriou outra vez. “Vamos tomar uma sopa? Num café?”. Nós fomos. Quase todas nós (e a menina que um dia ficou indignada com essa proposta talvez se lembre dela hoje, em dias tristes de olhar pela janela..... ).

Domingos pelo centro da cidade, filme p&b. Visitas à faculdade. Conversas, conversas, conversas. Querer bem mais que querer bem, mas.... não tinha que ser com a menina de cabelos amarelos. Não daquele jeito.

Super-pálio azul, estrada, carnaval, empolgação. Noite longa, pedra fria, aquecida pela música de um Ventania e vinho Marcon. “Mas, cadê as minhas 7 horinhas????”. 24 horas depois, quem se lembra do regular quadro de descanso noturno??? Os gritos eram só pra “Simplesmente, demaaaais”.
Colo e ombro para tentar consertar o desastre.
E só bem longe dali fui entender que ele, desde sempre, pertenceu ao seleto grupo dos que eram capazes de enxergar em mim mais do que eu mesma.... dali pra frente a história foi outra, e a realidade muito mais parecida com a de hoje.


Hoje? Saldo de histórias ótimas, dias de angústias, gargalhadas, confidencias sobre pensamentos em bobagens curiosas e bobagens sérias..... Amigos. AMIGOS. 6 letras, e quando acho que já sei o suficiente.....

Hoje eu ganhei uma carona. E a gratidão não é apenas pela companhia e boa vontade em ir até a PQP às 06h30 da manhã só pra me levar. É por todas as coisas que ficaram registradas nos meus negativos coloridos, e por aquelas que, invariavelmente, deixei passar.
Para o garoto que ouvia Queen, amor, e a certeza da importância, sem precisar medir o que é ser imprescindível.

Gui, meu querido, sem a menor dúvida: nossas vidas (são e ) serão beeem legais.


Nota: outras pessoas maravilhosas merecem espaço aqui, e chega até a ser uma injustiça que não ganhem um texto. E são muitas, e são absolutamente queridas, e sabem disso. Sabem quem são. E sou eternamente grata a elas também, por conselhos sem preço, convites para o sítio, casa, cama, roupas, girafa de pelúcia, horas e horas de conversa, resgate num churrasco, verdades doloridas, ombro, telefonemas, coca-cola com doritos, cafunés, broncas, risadas, e-mails, bebedeira na balada, trufas, minutos de atenção, bolas amarelas do smile, bilhetes no guardanapo, florzinha virtual, scraps e consolo por MSN, conversas pra discutir a vida, caronas de jipe, de carro, de Guarulhos, de Moema, de São Thomé, de São Paulo.... Amo vocês.


aromas e sabores: as lembranças!

A maior parte das vezes em que se fala de lembranças, dos fragmentos do passado, a associação imediata é feita a dois sentidos: visão e audição. Isso não é regra para todos os pobres mortais dessa terra, mas a maior parte das pessoas tem como sinônimo para “lembrança” uma espécie de filminho; imagens e sons de acontecimentos que ficaram registrados em alguma parte do cérebro. Quantos se lembram do gosto dessas situações? Ou do cheiro delas? É, eu faço isso. Meio incomum, talvez, mas acontece com a menina de cabelos amarelos.

Com as lembranças relacionadas a pessoas, e até lugares, talvez seja mais fácil. O perfume que alguém usou, a comida que só aquela pessoa faz, o cheiro que só aquele lugar tem... certamente outros seres menos amalucados também tenham sua lista de aromas e sabores.

Pois bem, estive pensando em quantas e quais coisas me lembram quem e o quê. Consegui enumerá-las e foi delicioso examinar a lista e ter certeza de que não vai adiantar o menor esforço, elas estão mesmo diretamente ligadas a pessoas que tiveram ou ainda tem uma importância incontestável, e a lugares marcantes (nem sempre por coisas boas, mas, e aê?).

Associações automáticas e eternas para:
Bubbaloo de tutti-frutti / Halls de morango / Accordes, Empório Armani e Styletto/ Rexona Bamboo / Fumo de corda / Maconha / Bife e macarrão com carne moída / Chocookies de baunilha / pizza gelada / rabanadas / doritos com coca-cola

Tem um perfume nesse mundo sem catálogo, e nem é necessário, conheço de longe. Está impresso em cada objeto que é da minha mãe. E, melhor, não está à venda.

terça-feira, setembro 14, 2004

Do que já foi dito (aquilo que mais olhos puderam ver)

A chuva caía, constante, para tornar ainda mais triste o semblante da mulher na janela.
Não era uma mulher, afinal. Tinha corpo de mulher, responsabilidades de mulher, problemas de mulher. Para um alguém mais descuidado até os olhos poderiam trazer a impressão estampada de uma idade avançada, forçada...... mas, no fundo deles, um fiapo de infância-adolescência tentando não morrer.
Encostada no vitrô, vestido típico de uma época que não era a dela. Bolinhas pretas, bolinhas brancas..... um cigarro nas mãos e a cabeça longe, talvez vagando pelo que poderia ter sido e por tudo aquilo que não deveria ser.
Ao fundo uma musiquinha melancólica, que os pais devem ter cansado de dançar com o rosto colado. O globo luminoso pendia do teto, as luzinhas coloridas movendo-se e passeando por seu rosto e pelas paredes decoradas com os corações, as claves de Sol e os discos do Roberto Carlos.

Impossível dizer quanto tempo se passou. Aquela poderia perfeitamente ser uma cena de um filme, sobre qualquer coisa que dissesse respeito a qualquer um. E ninguém teve coragem de interferir. Parados a poucos passos, outros olhavam com um misto de fascinação e compaixão. Ninguém se atreveu a elevar a voz, a erguer a mão, a tirá-la do seu universo particular.
A vida real parou por instantes, mas só para os que não tinham no peito a angústia que a mulher na janela não conseguiu esconder.

domingo, setembro 12, 2004

Uma salva de palmas para dona CL

“ Perdi alguma coisa que me era essencial e já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar”

A Paixão Segundo G.H. – Clarice Lispector



Eu descobri que também tive um membro amputado. E, ao contrário do que parecia ser, esse membro não atende por nome e sobrenome. É, a minha terceira perna nunca foi uma pessoa, mas eu mesma e a construção do que, durante anos, acreditei que seria o suficiente pra mim.
Tenho de volta as minhas duas perninhas branquelas e, afinal, não preciso realmente de um instrutor pra me dizer o que fazer com elas. Prefiro mesmo andar pra sentir o caminho debaixo dos pés (ou seria acima da cabeça?)
Carona? Sorry, mas agora só na próxima parada (e não espere, não sei quando é que ela vai acontecer).

Clarice Lispector é sensacional!!!

quinta-feira, setembro 09, 2004

E a lição de hoje é....

.... "Esquece, de uma vez por todas, que você é imprescindível. No trabalho, em casa, no seu grupo de amigos. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo”.

A única coisa que apodrece se não tiver seus cuidados é você mesmo.
O bom-humor, a paciência, os valores, as paixões, as loucuras, a essência, a preguiça, a revolta, a fúria, o desespero, qualquer coisa que se chame de felicidade e outras que se pareçam com sonhos e planos.... não estão no seu cachorro, no trago de um cigarro, dentro do pote de margarina, no fim da garrafa de vodka, no som do violão, no meio dos seus amigos ou na pessoa que você achou que seria a única.....
não adianta sair munido de desespero procurando as respostas e soluções em qualquer outra parte sem ser capaz de saber o que se passa com o reflexo que o espelho te mostra. Não dá!!!

Não dá também pra confundir ser importante com ser imprescindível. Óbvio que não estamos sozinhos, que não somos descartáveis, que há pessoas que me amam, como amam você e o Manoel da padaria, e que para elas atingimos um status mais que especial. Verdade, mas isso não significa necessariamente sermos imprescindíveis.... (O mundo vai continuar rodando mesmo se eu quiser parar.....)

Quando acaba a angústia de querer ser muito pra alguém e começa o trabalho de ser suficiente pra si mesmo, as coisas mudam. E ser capaz de perceber isso já é ficar bem pelo primeiro passo.

E isso aqui não é texto de auto-ajuda nem apologia ao egoísmo!!! = p

Três vivas para os retalhos de mundo que os outros me mostram!!! Mas, ser capaz de enxergar como eu colo os meus, faz um bem enoooorme.

E hoje estou particularmente feliz. E falando abobrinhas, afinal, mente afiada dá nisso....

Ontem a terapia foi via MSN (agradecimentos ao moço Tranqueira, que não precisa ficar preocupado porque um dia todo mundo se acha), e regada à cerveja e a uma excelente conversa ao vivo (mais agradecimentos a um outro moço, que vai trabalhar na ONG e me deu um certificado da Justiça Eleitoral, hahahahaha!)

E hoje eu ainda não sei, mas nem preciso esperar.....

segunda-feira, setembro 06, 2004

seu Deo e os aviões

Ah, o mundo corporativo! Quem já participou de uma dinâmica de grupo? Melhor, com pessoas que trabalham com você todos os dias?
Foram mais de 8 horas. Tiveram sua relevância, afinal, deu pra perceber que quase todos estão vendo o buraco e muita gente querendo arrumar logo a estrada. E isso é bom.
Aprendi a fazer aviões. Em série. Divisão de tarefas funciona. Gerenciamento de crise também deveria.

***

O dia não terminou com todas as cores. Ficou mais pálido quando o telefone tocou um pouco antes das 10h da manhã. O seu Deo faleceu. Um minuto de silêncio, uma tentativa de um gesto de respeito. Uma tristezinha doída voltando a me fazer uma visita.
O seu Deocleciano era uma das pessoas mais antigas naquela empresa. Se não era a mais antiga. E, não, ele não era funcionário. Era dono de um grande bom-humor, de um espaço pequeno, cercado de publicações coloridas, guarda-chuvas e uma montanha de guloseimas. Tv para a sessão da tarde, filmes anos 80, que eu cansei de ver nas minhas férias escolares...
Podia facilmente ser meu avô. E não é exagero se eu disser que me tratava como neta.
Todos o viram adoecer. Não sei quantos perguntavam como andavam as coisas. Não sei quantos foram visitá-lo. Não sei se prestei toda a atenção que podia. E era visível que ele sofria cada vez mais. E não desistia do cigarro, nem das conversas.... nem de melhorar logo.
Acho que foi um alívio. Espero que tenha sido. E, por covardia, preferi não pensar no “nunca mais”.

sexta-feira, setembro 03, 2004

O Tarzan dormiu no quarto ao lado!

Workshop 1 - noite do Tarzan

Cartão devidamente encaixado. Luz verde, maçaneta pra baixo, interruptor aparece. Todas as coisa escondidas no escuro também.
SOROCABA! (primeiro pensamento...) Caramba!!! assim não vai dar mesmo... tento outra memória, qualquer outra coisa...
Isso! o chuveiro tá me chamando e.... essas camas???? Poxa, são 3!!! Pra quê tanto??? Já sei, vou pular em cada uma delas pra ver qual a melhor.... ok, piada babaca.
Ah! Podia não ter mais que sair dali, mas faltavam 02 minutos pra hora marcada e eu ainda de calcinha e cabelo despenteado....
Lá fui eu (depois de devidamente vestida, óbvio!).

Todo mundo rindo, mesa cheia, sinuca e batida de maracujá. Boliche. Amanda no telefone (saudades da menina admirável!!!).
Hora do jantar. Uma coisa lúdica, com a intenção de ser estratégica. Será???? Eu montando o prato da Fernanda....
Guerra de macarrão cru!!!! O quê???? Todos loucos, jogando macarrão pra todo lado. Cena memorável. Destaque para a melhor mousse de chocolate que eu já comi na minha vida!!!!

Ah! Hora do videokê. CLÁSSICOS!!! Tive que cantar "Meu erro". E Shakira! Hahahaha!!! "Pretty Woman" pra fechar a noite.
(O povo da TIM simplesmente desapareceu. Só 5 gatos pingados no violão e........o resto.....??? Teoria: o show do Jorge Ben acabou com eles!!!)

Ok, agora já deu. A Pri levou a pinça e a esponja azul que ela queria. E eu no 524. No way de sair dali.
Pijama sim, e cama, que na manhã seguinte o negócio seria pra valer.
Música ambiente pra relaxar e... pra PQP!!!! Só podia ser piada!!! Vinicius, Tom e Chico. Instrumental!! (Ah! olha só que ótimo esse Murphy querendo analisar minha capacidade de associação..... Pra PQP ele também!!!)
Cama. Relógio marca 02h00 em ponto. Agora vai.


ÔÔÔÔÔ,OÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ,ÔÔÔÔÔÔ!!!!

(Susto!!! Ótimo! Um Tarzan no quarto ao lado! que resolveu berrar bem na minha janela! E, 3 segundos depois, eu ouço patos respondendo ao grito. PATOS!! madrugada surreal....).

quarta-feira, setembro 01, 2004

Só pra constar...

Só pra constar: isso aqui não é muro das lamentações. NÃO! Mas, vai servir pra caber os retalhos rasgados também.
E, já que a febre me pegou, eu aproveito pra deixar uma música que é linda, e uma das mais tristes que eu já ouvi na minha vida.
A letra é de arrebentar e a melodia parece alegrinha.....crueeeeeeeeeeeel!!!!


If you close the door - Velvet

one, two, three...
If you close the door
the night could last for ever
leave the sunshine out and say 'hello' to never
all the people are dancing and they're having such
fun
I wish it could happen to me
but if you close the door
I'll never have to see the day again
if you close the door
the night could last for ever
leave the wineglass out
and drink a toast to never
Oh! someday I know someone will look into my eyes
and say 'hello'
you are my very special one
but if you close the door
I'll never have to see the day again
Dark cloudy bars
Shiny Cadillac cars
and the people are in subways and trains
looking grey under rain as they stand disarrayed
all the people look over in the dark
and if you close the door
the night could last for ever
leave the sunshine out and say 'hello' to never
all the people are dancing and they're having such
fun
I wish it could happen to me
'cause if you close the door
I'll never have to see the day again
I'll never have to see the day again
once more
I'll never have to see the day again



ufa! parei por hoje!


Febre

Hoje acordei sentindo saudades. Acordei sentindo cheiros que me lembram pessoas e lugares (assim, no plural mesmo). E fiquei com uma massa gelada, passeando por entre a pele e meus ossos. Tenho frio, e não é por causa do ar. É tudo culpa dela!

Faz pouco tempo chorei de raiva, numa conversa desgastante (só pra variar). Chorei muito, com o sentimento queimando e entalado no gargalo da minha garganta. Raiva, por ter perdido espaços de pessoas queridas, por não saber mais quais são eles. Não conseguir distinguir, dissociar, lidar com a ausência e a maldita falta. Perder uma coisa chamada convivência. Raiva de mim, e não só de mim.
As escolhas. Eu tive que fazer a do desaparecimento, do tempo, do silêncio. Tinha que parar de sangrar, senão ia manchar tudo e espirrar tristezas pra todo lado. E aí? Ficou a saudades..... domingos sem visitas e nada das conversas.
Aaarg!!! E isso tem um gosto amargo.

Nessa segunda eis que o telefone toca, no visor um nome conhecido, o coração bate 10 vezes mais rápido e fica do tamanho de uma noz. “Oi querida!”.
Pronto, podia sentir toda a angústia saindo pelos poros, ao mesmo tempo em que a saudade roubava o ar.

Mas que bela porcaria! 5 minutos de conversa e o sono só depois dos soluços. E esse não era de raiva. Era de vontade de um abraço. Que eu ainda posso ter, mas não sei se consigo sem doer ainda mais.

Hoje a febre voltou. Mas sei que daqui a pouco ela passa.